quarta-feira

O cruzeiro das nossas Vidas (1)

A cena é conhecida, iconográfica mesmo, na rocha do conde de Óbidos, amontoavam-se familiares, para o último adeus. O Vera Cruz da Companhia Nacional de Navegação esperava-nos para um cruzeiro tropical em nome da pátria com direito a “chef de cuisine française”. Enfim, não se pode dizer que a ditosa Pátria, não tratava bem dos seus filhos. Lembro-me que o Chefe do Estado Maior do Exercito fez um discurso de exortação às heroicas forças de defesa do ultramar portugês. Em muitos, casos isso não foi apenas uma expressão foi mesmo real. Esse foi o meu caso, ou melhor o meu caso foi diferente. Na verdade eu fui e voltei. Só que o homem que voltou deixou para trás morto o homem que partiu. Na realidade eu, morri naquela mina. Perdi duas pernas e uma vida. Muitas vezes pensei nas imagens do barco a sair da barra. Das noites de cinema a bordo. Busco na memória e recordo muitas caras de homens que se tornaram fantasmas. Dos companheiros para quem embarcar foi o último adeus. Um adeus Ponte Salazar no cruzeiro das suas vidas….