Aí está companheiros deixo-vos também a vocês imagens fortes para lidar para o resto das vossas vidas. Conheço e recordo cada um de vocês, como sei que esta imagem do jipe destroçado, esse cartão de visita da mina, ficarão para sempre nas vossas memórias. Sei que de tempos a tempos quando abrirem este álbum se recordarão de Ramiro, mas esse também morreu coma explosão. Hoje resta um outro Ramiro, o que teve de encontra de novo uma razão de viver, o que teve de se reinventar nessa nova condição. Passaram 35 anos e hoje já consigo lidar com muitas das memórias. Apenas á pouco voltei a ser um homem inteiro. Talvez este ano vá ao encontro anual do regimento, sinto que talvez já nos possamos reencontrar.
quinta-feira
Factor surpresa
As m inas não foram as culpadas...
O chão fugiu debaixo dos meus pés
Carne para canhão
Entregues á divina providência
Os pais enterram os filhos
terça-feira
A fronteira da liberdade
Desde o primeiro minuto que cheguei a África começou a germinar a revolta contra a guerra.. Mas o que era mais difícil era esconde-la, sabia que não me queria ver num Tribunal de Guerra. Mas ás vezes sonhava em deixar tudo, pegar no Willie e passar a fronteira com o Congo. Sabia que a liberdade estava tão perto. Às vezes imaginava que ninguém daria pela minha falta.
sexta-feira
Sorrisos perdidos no meio da guerra
Sempre adorei esta foto e o sorriso inocente das crianças. Igual ao das crianças de todas as cores, escondendo o porquê de tantas incompreensões. Gosto de ter ficado comigo este pequeno momento de ternura que não quer dizer compreensão. Quem sabe amanhã sejam estes os primeiros a empunhar as armas contra mim, como aconteceu em 1961 por todo o norte. Neste ar quente vagueiam as memórias de massacres, de chacinas, de corpos mutilados de incompreensões de equívocos, e eu cada vez compreendo menos sobre esta terra, sobre nós e esta terra. Amanhã ao meu lado poderá tombar um companheiro negro, como poderemos dizimar uma alteia por retaliação à morte de uns fazendeiros. Quanto tempo durará a recordação dos corpos mutilados jazendo ao abandono? Quem nos conseguirá compreender? Mas ainda hoje recordo com ternura os simples sorrisos perdidos no meio da guerra.